Lendas e Tradições
Dada a grande riqueza que o Concelho de Arganil apresenta em património cultural, nesta página damos a conhecer algumas das Lendas e Tradições conhecidas.
À saída da Benfeita quem vai para as Luadas, logo a seguir ao cemitério, levanta-se um enorme e famoso bloco de xisto que se alonga vale adentro. Assemelha-se a um vigia do portão de grande quartel: é o Penedo do Rolão.
É a partir dali, que larga garganta prende nas suas paredes altaneiras o casario branco e os fartos olivedos. É a partir dali que se começa a avistar a povoação da Benfeita.
Ora diz a lenda que uma jovem e linda moira encantada vivia numa gruta aberta no sopé do Penedo do Rolão e que perpetuamente, dia e noite, guardava os seus fabulosos tesouros escondidos debaixo desse enorme Penedo. Dá-los-ia a bela moira a quem reunisse três condições: sonhar três vezes seguidas com o tesouro, não contar a ninguém o seu sonho e ir sozinho, à meia-noite, cavar no sítio que o sonho lhe tenha revelado até encontrar o tesouro. Ficaria assim facilmente rico.
Diz-se que muitos homens e mulheres, desde os tempos mais antigos até hoje, por lá andaram, à meia-noite, a escavar depois de sonharem três vezes seguidas com o dito, mas nunca o puderam encontrar porque não conseguiram guardar o segredo.
Uma parte do Penedo foi há anos cortado, quando abriram a estrada para as Luadas. Mas apesar disso, lá contínua soberbo e altivo a esconder a moira e sua riqueza e à espera de alguém sonhador, calado e destemido que se atreva a desvendar o local certo do misterioso tesouro.
(Colhido na Benfeita por António Dinis em 1999)
In: Lendas do Vale do Alva/ Centro Social Paroquial de Coja
Diz a lenda que em tempos remotos, quando não havia igreja nos Cepos, os habitantes dali vinham à missa à igreja de S. Pedro de Arganil.
Um dia um homem vinha com dois filhos, rapaz e rapariga, e na serra os filhos perderam-se do pai.
A menina não apareceu mais, presumindo-se que foi comida pelos lobos. (Que naquele tempo os lobos, apareciam com frequência, a ponto de se tornarem tão conhecidos que até os chamavam por nomes próprios, como se costuma às ovelhas). O menino, esse foi o pai finalmente encontra-lo em Lisboa, em casa de família rica.
O filho, ao ver o pai, gritou logo: «É o meu pai!» E este gritou: «É o meu filho!»
Então aquele homem rico mandou fazer nos Cepos uma igreja.
E o monte onde se perderam as crianças ficou a ser chamado «Cabeço Santinhos».
Diz a tradição que eram onze ou doze moradores nos Cepos quando se fez a igreja.
(referido pelo Dr. João da Silva Campos)
In: Revista Arganilia nº 4
A norte de Coja, passando o rio Alva, estendida por uma longa encosta, uma Quinta farta e soalheira era o arcaz e a adega de Coja, ainda não há muitos anos.
A água corria abundantemente para satisfazer as necessidades agrícolas. Ainda hoje é um local privilegiado. Dela falam os documentos primeiros da história de Coja e do Mosteiro do Lorvão. Chama-se Quinta da Telhadela.
Diz a lenda que…
No tempo dos moiros a Telhadela, no local onde se ergue o cruzeiro, fora uma linda povoação onde a riqueza e o bem estar existiam. Por ali as belas princesas de cabelos doirados bordavam, com fio de oiro, os mantos que punham sobre os ombros dos seus maridos.
Quando foram expulsos deixaram enterradas nas cercanias, com intenção de um dia tornarem de volta, grandes panelas de ferro cheias de ouro.
Diz-se que deixaram escrita numa enorme pedra a legenda que ainda hoje é repetida pelo povo:
Adeus Quinta da Telhadela
Muito ouro fica nela
E se foram à Fonte da Bica (1)
Muito mais ouro lá fica.
Debaixo deste enorme penedo habitava uma corpulenta serpente que guardava um fabuloso tesouro. Bem cobiçavam o tesouro as agentes das redondezas, mas o medo e a impotência era maior. Todos diziam:
Quem esta pedra virar
Grande fortuna há-de encontrar.
Até que um dia, num dia de Inverno, a serpente saiu do esconderijo e foi aquecer-se, na outra encosta, ao sol.
Os homens espreitaram-na e vendo-a longe agarraram o penedo, viraram-no e levaram o tesouro.
Ainda hoje se diz que algumas riquezas existentes em Coja vieram do ouro moiro roubado à serpente.
(1) ao fundo das Bogalhas
Há quem diga que esta fonte fica situada no Vale do Gavião, junto ao Vale do Carro
(Recolha feita por António Dinis)
In: Lendas do Vale do Alva/ Centro Social Paroquial de Coja
Conta uma curiosa lenda que, numa certa e linda noite de luar, um barco corria pelo Mondego abaixo, vogando, flutuando ao acaso, indo, por fim, por fim prende-se entre uns verdejantes salgueiros, cujas raízes iam beber ao Alva. Da lua, nesse momento, derramou-se um luar mais claro, mais transparente, que deixou a água do rio como se fosse um tapete de prata…
Logo em seguida, surgiu do barco uma jovem mulher de deslumbrante beleza, olhos faiscantes como estrelas, cabelos negros, soltos ao vento, e envolvida num maravilhoso manto de rendas que, à luz da lua, tomou a transparência da espuma do mar… Sentando-se na relva, começou a desfolhar boninas, atirando as pétalas ao rio, rindo e cantando… De súbito, as águas de Alva separaram-se, saindo delas um esbelto jovem, tocando numa cítara uma música doce dolente, como o murmúrio das águas….
A jovem suspendeu o canto, escutando enlevada!… O seu meigo olhar, obedecendo, de certo, a uma magia, foi prender-se ao do mancebo e, assim, nasceu um idílio de amor!… Ele era o rei dos mares, Neptuno, escondendo a sua realiza sobre o simples nome de Nil e, ela, Arga, a princesa moura, presa pelo encanto nas águas do rio Mondego, que só a libertava nas noites de luar.
Nil e Arga trocaram os corações, amando-se ternamente. Naquelas lindas margens do Alva, onde brotou o seu amor, quiseram ali mesmo edificar um ninho, um lar. Mas Nil terrivelmente cioso da sua Arga, fê-lo, logo, cercar de enormes montanhas, isolando-o. Num arrombo de estonteante carinho, ligando o nome da sua amada ao seu, formou um só nome, que nele gravou: Arganil.
Ainda hoje, quem passar a três quilómetros de distância desta hospitaleira vila, escondida entre as serras, encontra bem conservada a capelinha moura, onde a lenda diz que nas noites de luar a princesa deixando o seu encanto, ia pedir com todo o seu fervor a Allah a constância eterna do amor de Arga e Nil. A brisa ligava os sons e levava-os aos rouxinóis que nos seus maravilhosos trinados, repetiam docemente: – Arganil…
Corre o Alva, mansamente,
Dia e noite sem parar,
E , aos salgueiros, docemente,
Beija-os, rápido, ao passar…
E a água do rio então
Pelos prados a seguir,
De Nil a doce canção
Canta-a na fonte a cair…
Um Rouxinol quis cantar,
A lenda deste noivado
E a branca luz do luar,
Fê-la ouvir seu trinado!…
Nota: lenda recolhida por Maria Júlia de Sá Nogueira
In: Lendas do Vale do Alva/ Centro Social Paroquial de Coja